“Descobri — numa carta de Clarice Lispector para Lucio Cardoso — que polisipo, em grego, significa “pausa na dor”.
Têm sido, estes dias, polisipos.”
Caio Fernando Abreu
Passei o dia na cama, hoje. Não pelas melhores razões (saudades, melhores razões), mas não pelas piores. Não por doença ou angústia. Eu li – uma das coisas gostosas em mim é que quando engrena eu leio ligeiro demais. 230 e tal páginas se foram em menos de uma manhã. Aí revi um filme imenso, viagem no tempo, amizades, perdas, esperança. Uma coragem. Segui no dia em três partidas de futebol. Na mais importante delas – pra mim – o Flamengo venceu. Papeei com o Fabiano – e nem foi só sobre livros. Depois fiquei fuçando e-mails antigos. Eu, deliciosamente pedante. Que maravilha a vida que eu tenho vivido. Muito bom lembrar disso. Que vinha me divertindo. E que se tem estado tudo cinza e pesado nos meus dias é porque tá mesmo especialmente pesado e cinza no mundo. Mas, esticando a vista, lá está o veio do bom. Sim, eu tenho sofrido. Sofrido por grandes motivos e por miudezas. Mas nem boa nisso eu sou. Por isso fico genuinamente animada quando há analgesia. Fiz um banho especial. Morninho, com camomila e outras coisas doces e gentis. Menos chorosa, repito a sabedoria do Mark Sloan: Walk tall, Luciana. Até queria esticar as horas, mas já me sinto molinha. Vou dormir vendo um compacto de Palmeiras 1 X 3 Flamengo. E sorrindo.
(esse hoje foi ontem, agora já é o amanhã do antes e a vida tá sapateando, com bico fino, no meu coração)
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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