98o dia de quarentena (ou algo assim), mais de 50.000 mortos e, como na canção, “esse silêncio todo me atordoa”;
Pra tentar tirar a cabeça da imensa angústia do desamparo de nossa população nessa situação de pandemia, tem gente fazendo yoga, zumba, curso de cabala, aprendendo mandarim, eu estou lendo romances policiais e me entretendo com reflexões dessa natureza:
Outra: as pessoas falando de Kopenhagem, eu lembro do único chocolate que realmente gosto, um negócio da Lindt com sal. Vou olhar no google e está confirmado, nunca mais como chocolate, uma barra é 30 reais, pelamor, o preço de um presente de Natal.
Eu estou preparada pra ficar por aqui, quietinha, trancada, quanto tempo for necessário, mais dois meses, quatro, um ano. Mas que vontade dolorida do mar.
A amiga me avisou da estréia e aqui estou eu esperando o primeiro episódio de Perry Mason. Intervalo, paro aqui, vou assistir. Vi. Pesadão.
Se eu pudesse. Se eu soubesse. Se me fosse dada a arte. Eu faria, do dolorido, vínculo. Vou aprender kintsugi.
Porque era noite e sem lua, ela apagou as luzes na casa e acendeu anseios. Porque era noite e havia sido dia, ela aceitou as dores nos ombros, o peso das pernas, o aperto no peito. Porque ela era sua própria noite, fechou os olhos e se deixou escurecer. E sentiu. As sombras. A dor. A solidão. O desejo. Porque eram noite, em coragens percorreu seus breus e vazios. Acolheu-se. Abriu os olhos e se soube madrugada. Sorriu, leve, caíam-lhe bem as cores.
Status de segunda: muito encantada por essa canção do Bruno Batista
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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