Ate agora foi o dia do não. Tenho louça pra lavar da janta de meia noite. Não lavei. Tenho roupa pra tirar do varal. Não tirei. Não varri o quarto, não cozinhei, não lavei o banheiro, não vi filme, não estudei.
Mas falei com meus pais e eles estavam tomando uma cachacinha e tirando gosto com torresmo.
“O que você vai fazer quando acabar a quarentena?” e todo mundo tem boas respostas, grandes planos ou pequenas sacanagens. Deve ser bom ter alguma confiança, em si, em um futuro, sei lá. Eu não vejo amanhãs. Eu não consigo responder esta pergunta. Não consigo olhar pra frente. Planejar nada. Vivo o dia. Um dia. Espero e espero, apenas. Talvez a resposta fosse: viver. Mas quem vai viver? Não sei quem eu serei no depois. Não sei se serei. E quem mais será. E se alguém não for, como eu poderei continuar sendo? Toda vida importa.
Recebi uma ligação com vídeo da amiga. Me emocionei.
Tomei dois copos de iogurte.
Disse ali mais pra cima que não tô fazendo planos. Mas não é totalmente verdade. Hoje tomei uma decisão: amanhã farei feijão rico (faz dias que tô tentando colocar essa idéia pra frente mas hoje coloquei as carnes pra dessalgar).
Os víveres estão escasseando. O que acabou primeiro: cenoura, abóbora, espinafre, cheiro verde, tomate, todas as frutas, todo o álcool. Estão acabando: flocão, goma, alho, iogurte, detergente, shampoo, água sanitária, água mesmo, arroz (mas nem vale contar, eu não comprei porque tinha meio pacote e continua tendo 1/4 do pacote), ovo.
No projeto Xerazade: sertão e minhas veredas.
luciana, o que você faz o dia todo em casa? eu faço o dia todo, só isso.
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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2 comentários em “Cedo demais”
Bem assim.
Hoje foi meu 2º dia de panela de pressão.
Incrivelmente, o projeto de domá-la durante a 40ena tá andando.
fiz feijão “pernambucano”, com legumes e paio. faltou a charque.
mas ficou bem delícia e eu mais feliz de ter conseguido a 2a vez.
Mergulhos.
Beijos.
olha a coincidência, amanhã farei também feijão (no caso, feijão rico que é parente do seu, pernambucano). E tô adorando essa relação de vocês (no caso, você ela, a panela)
Bem assim.
Hoje foi meu 2º dia de panela de pressão.
Incrivelmente, o projeto de domá-la durante a 40ena tá andando.
fiz feijão “pernambucano”, com legumes e paio. faltou a charque.
mas ficou bem delícia e eu mais feliz de ter conseguido a 2a vez.
Mergulhos.
Beijos.
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olha a coincidência, amanhã farei também feijão (no caso, feijão rico que é parente do seu, pernambucano). E tô adorando essa relação de vocês (no caso, você ela, a panela)
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