Segunda, terça, quarta… este semestre são dias em que não tenho aula. Claro que precisaria sair para reuniões, orientação, grupo de pesquisa e outras atividades que brotam como gremlins na chuva no dia a dia de professor universitário. Mas, ainda assim, em dias que não tenho aula, excepcionalmente, poderia ficar trabalhando em casa – como já fiquei em outras situações. Então, pensei eu, nem vou sentir direito nesses primeiros dias, vai bater mesmo no dia em que eu deveria me encontrar com as turmas. Mas não é assim que funciona. O peso de não dever sair pra nada, nadinha, sente-se desde o início. E uma imensa e angustiante preocupação com os que não estão aqui. Muda a sensação do tempo, muda a forma como vivo os dias e a vontade de fazer coisas, mesmo as que gosto. Pensei: vou cozinhar mais. Realidade: pão e ovo win. Pensei: verei mais filmes. Realidade: nem o filme diário, da “hora do almoço” tenho visto. Minha bóia tem sido a leitura. Tenho voltado aos livros de papel, me segurando nos velhos conhecidos, Puzos e Verissimos e psicanálise, sim, como se eu tivesse dezoito anos.
“Isso lhe dá o poder, não o direito”
ainda encontro as melhores frases nos mais antigos filmes
Hoje eu fui ao supermercado, lavei roupa, li mais uns capítulos do livro juvenil de dragões, fiz lasanha, gravei áudios pra família, mandei mensagens pros alunos, escrevi post em blog novo, revi Doutor Jivago.
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
Ver todos os posts por Borboletas nos Olhos