“o que nos resta é o fato de que o organismo deseja morrer
apenas do seu próprio modo”
Uma rosácea tão atacada que o rosto que parece um caminho de cascalhos, dores em lugares do corpo que eu antigamente nem lembrava que tinha, uma imunidade tão baixa que nem o mais flexível dos bailarinos passaria embaixo do sarrafo, suspeito que o organismo aqui já resolveu o como, só falta chegar lá.
Como eu posso condenar quem usa drogas: eu me entorpeço mergulhando em romances policiais e vendo esportes na tv.
No governo golpista Temer a sensação era de queda livre (passando pelo décimo terceiro andar e até agora tudo bem), agora é de areia movediça (e já com a lama no pescoço).
É melhor ser alegre que ser triste, né, Vinícius.
Vou ficando mais e mais preguiçosa. Pra tudo: limpar a casa, ler textos de trabalho, escrever artigos (a única coisa que ainda não esmoreci foi preparar e dar aula). Como se a bateria estivesse acabando.
Uma prece: dai-me a coragem de não saber sobreviver. Ou: dai-me a sabedoria de não ter coragem de sobreviver. Ou: dai-me a sabedoria de sobreviver sem coragem. Ou dai-me a coragem de sobreviver com sabedoria. A verdade é que nunca aprendi a rezar mesmo.
Passar os dias como atleta de saltos ornamentais: dar umas cambalhotas não por acaso batizadas de mortais e torcer pra não cair de barriga.
Sempre achei intrigante a mania que os vilões tem de colocar botão de autodestruição com contagem regressiva que sempre permite aos heróis desenvolverem uma estratégia pra salvar a própria vida/a situação/o mundo.
Viver é indizível, biografia é ficção.
Antes que os amigos planejem uma intervenção, ainda faço planos pro ano novo, ainda reservo pousadas para setembro, ainda marco jantares pra daqui a duas semanas.