O que não perdôo ao pragmatismo anglo-saxão é ter-nos distraído da principal descoberta da psicanálise: o sério do ser humano é da mesma matéria de um trocadilho.
Sem saber de ti fico sabendo um pouco menos de mim.
Nem sei mais de onde retirei a citação mas ela continua verdadeira: “[Freud] pensava então estar levando a peste ao novo mundo [quando em 1909 visitou os EUA]. Muito pelo contrário, foi aí que a peste virou vitamina”.
Das coisas que parecem fáceis mas são realmente muito, muito difíceis: partilhar um guarda-chuva. Ora, podes pensar (este leitor imaginário que eventualmente aparece em minha imaginação e a quem tento convencer das mais bobas reflexões), é só estarem os dois no mesmo sítio. E que chova. Pois não é, digo eu. Para se partilhar o guarda-chuva é preciso cumplicidade. Que os corpos saibam o ritmo um do outro e se empenhem na sincronia enquanto a mente evita as poças, desvia de outros corpos, espera o sinal abrir e o sem número de coisas com as quais nos deparamos em deslocamento. Pensa-se em ir de um lugar ao outro e embaixo do guarda-chuva, como em um balé extemporâneo, os corpos se alinham, se encaixam, se afastam, se sucedem, se sobrepõem ou se alternam. Dividir um guarda-chuva não é algo que se converse ou se negocie: “olha, coloca tu o pé direito primeiro e depois inclina o corpo e então…“. Não. Chove e os corpos se sabem. Ou as pessoas se molham.
Eu namoro como viajo. Ia me estender mas fica aí de release pra posts futuros.
Não sou de ciúmes mas se há uma situação que me deixa insegura e me enche de dedos é concorrer com a imagem e marcas que deixei em ti.
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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