Quando meu filhote era bem isso, um filhotinho recém-nascido, com uns dias, umas semanas, sei lá, minha mãe me perguntou: filha, será que a gente não devia beliscar o Samuel? e eu: heeeiiinn? why? e ela: não com muita força, só pra saber se está tudo bem, afinal a gente nunca escuta ele chorar (e é verdade, eu sei que ser mãe e pai de bebezinho pode ser dureza mas não foi assim pra mim). Eu não concordei com o beliscão e disse que, ué, ele não chorava porque não precisava, tava sempre de bucho cheio, roupa seca, banho tomado, sono em dia e tal. Que a dor viria, porque viver dói, ele não precisava que a gente precipitasse o que era inevitável.
Em outro tempo, uma amiga que eu amo muito me perguntou: Lu, tu não fica mal nunca? Às vezes dá vontade de te sacudir pra saber o que tem atrás deste sorriso.
Corta pra hoje. Baby (que já não me considera amiga), a verdade é que o que tinha por trás do sorriso era outro sorriso, afinal eu andava banhada, comida, dormida. Pra quê que eu ia chorar? Mas taí, você não me sacudiu mas o mundo me beliscou. E nem foi devagarzinho e como experiência, como minha mãe ia fazer com o neto que ela ama, nem foi por cuidado ou preocupação. Não, arrancou pedaço e se eu não tomar cuidado, infecciona.
Hoje foi um dia bom. Dia de luta. Gente na rua (adolescente é engraçado, de um em um tem chance de eu gostar muito; em multidão: adoro; em grupos médios: socorro, alguém me tira daqui). Palavras de ordem. Resistência. Mas é angustiante como a realidade se assemelha com aqueles filmes-catástrofe em que a mesma quantidade de alimento parece sustentar os personagens por períodos cada vez menores de tempo.
Não é que eu seja niilista. Acredito na luta. Fé no homem, fé na vida, fé no que virá. O que dói tanto não é a incerteza do que faremos do futuro mas a tristeza de saber como perdemos o passado.
“E esse aperto no fundo do peito, desses que o sujeito não pode aguentar…”
Ou, de outro jeito: vem aí um fim de semana que quero muito, que me anima e comove e mesmo assim nem consigo levantar e arrumar a mochila.
devagarinho. arruma devagarinho.
beijo, até já.
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