Em janeiro de 2018 voltei azoropa pra buscar o diploma. Viagem cara, “decidida” em cima da hora (a Universidade mandou a data da solenidade no fim de novembro e eu tive que me rebolar), mas era Lisboa, né (e Roma, porque ficou mais barato comprar passagem com stop over que ida e volta pra Lisboa).
Pela carinha de quem tá gostando demais dá pra sacar que eu me sinto muito, muito, muito bem mesmo nestas duas cidades. Lisboa é um abraço. Cada rua me dá a sensação de estar sempre onde devia estar, mesmo que eu nunca tenha passado nesta rua específica antes. Ao mesmo tempo que pra mim era reencontro, pra minha irmã era o primeiro impacto e como é bom sempre redescobrir como Lisboa é linda, nos olhos de quem não sabia.
Há coisas que faço em Lisboa que faria pra sempre, sem cansar. Tomar uma sangria no Mercado de Campo de Ourique. Sentar à beira do Tejo. Comer no Bitoque. Pegar o 15 só pra comer uma coxa de frango, um suco de laranja, um café e um pastel de Belém. Sair do metro nos Restauradores e sentir aquela vibe “agora sim” e seguir passando pelo Rossio e Augusta até chegar ao Cais das Colunas . Perder tempo na Feira da Ladra. Tomar um café no Jardim da Estrela. Esquecer o tempo na Rua Rosa. Andar de 28. Pra cima e pra baixo, andar de 28. Mais e principalmente, apenas estar em Lisboa. Fazer compra no mercado, no supermercado, abrir a janela e deixar o sotaque entrar, cozinhar, beber vinho verde, conversar, rir, estar.
Talvez, só talvez, Lisboa seja o lugar para onde se pode voltar.
É melhor morrer de vodka do que morrer de tédio, disse Maiakovski. Brindo a isso enquanto acontecem-me coisas surreais. Segue o meu perfil quando me vejo assim: cara a cara comigo mesmo. Ou seja, meio de lado. Um mosaico com rachaduras evidentes. Nostálgica, mas disfarço com o riso fácil. Leio de tudo e com desespero. Escrevo sem vírgulas, pontos ou educação. Dou um boi pra não entrar em uma briga, o resto já se sabe. Considero importantíssimo saber rir de mim mesma. Nem que seja pra me juntar ao grupo. Certa da solidão, fui me acostumando a ser boa companhia. Às vezes faço de conta que sou completa, geralmente com uma taça na mão. Bebo cerveja, bebo vinho e, depois das músicas italianas, bebo sonhos. Holanda, por parte de mãe e de Chico. John Wayne, por parte de pai. Borboleta e Graúna por escolha e história. Tenho uma sacola de viagem permanente no meu juízo e a alma, de tão cigana, não para em palavra nenhuma. Gostaria de escolher meus defeitos, mas não dando certo isso, continuo teimosa. Não sei usar a nova regra ortográfica. Nem a velha, talvez. Amo desvairadamente. E tento comer devagar. Sei lá, pra compensar, talvez. Tem gente que tem a cabeça no mundo da lua. Eu não. Quando vou lá, vou toda. Sou questionadora, mas aceito qualquer resposta. Aspecto físico? Língua afiada e olhos cor de saudade. Gosto de fazer o que eu gosto. No mais, preguiçosa. Sabia o que é culpa, mas esqueci. Nada mais a dizer, prefiro andar de mãos dadas. E dormir acompanhada. Mas, bom, bom mesmo é sal, se você já leu Verissimo.
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